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A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE: Weber, Frankl, Jonas

Diz Frankl (1994a, p. 242) que se por um lado a humanidade alcançou um máximo de consciência – de saber, de ciência – e também um máximo de responsabilidade, por outro, atingiu um mínimo de consciência de responsabilidade frente ao destino. Assim, a terapêutica para o que denomina “a neurose coletiva atual” é a mesma destinada ao homem individual: uma chamada à consciência de sua responsabilidade. Desde Weber, a “ética da responsabilidade” vai assumindo um status cada vez mais elevado na sociedade contemporânea, com diferentes enfoques. Trazemos uma brevíssima síntese de três autores, a título de provocar a discussão. 

Max Weber, em sua obra Ciência e Política – duas vocações, examina o problema da relação entre ética e política, e em que medida a ética exprime “dignidade”: em qualquer circunstância e aplicando-se a todos? Levando-se em conta que um princípio ético visa a um determinado fim, outra questão parece fundamental: um fim bom ou justo pode justificar um meio (uma ação) nem sempre honesto, que o autor caracteriza como desonesto ou perigoso? Qualquer tipo de “ética absoluta” (seja de caráter político, religioso...), para Weber, não se preocupa com as conseqüências da ação que desencadeia, ou seja, abstém-se da responsabilidade de seus atos, mas tem como finalidade apenas afirmar seu princípio, reforçar uma doutrina absoluta. Daí que diferencia o que denomina “ética da convicção” de “ética da responsabilidade”. 

Na “ética da convicção”, não há possibilidade de se encontrar um fundamento racional sem abrir concessão à tese de que os fins justificam os meios. E tal fato é o que coloca em cheque a ética da convicção, pois nenhuma ética pode dizer-nos em que medida um fim moralmente bom justifica os meios moralmente desonestos ou perigosos.  O partidário da “ética da responsabilidade”, ao contrário, diz Weber (CP, p. 113), “contará com as fraquezas comuns do homem [...] e entenderá que não pode lançar a ombros alheios as conseqüências previsíveis de sua própria ação”. Em política, há que afirmar-se a ética da responsabilidade, a única que responde pelas conseqüências de seus atos. 

Para Weber, não cabe a ninguém recomendar quando atuar segundo uma ética ou outra. O problema é quando alguém inspirado pela ética da convicção tem uma atitude messiânica e se considera aquele que pode salvar a humanidade; esta atitude é no mínimo romântica, quando não reflexo de um desequilíbrio psicológico ou mental. Por outro lado, o homem maduro, que sempre agiu pela ética da responsabilidade, pode chegar a declarar que daquele determinado ponto não poderia continuar a agir sem ferir de fato sua consciência. Por isso, nas páginas finais de sua obra Weber coloca que as duas éticas (embora não se conciliem) não se contrapõem: “mas se completam e, em conjunto, formam o homem autêntico, isto é, um homem que pode aspirar à ‘vocação política’” (Ibid., p. 122).

A ética da responsabilidade em Frankl tem em primeiro lugar um caráter privado, parte de uma convicção a priori: de que a vida tem sentido em qualquer circunstância e que é a própria vida que coloca continuamente perguntas a que se deve responder, não com palavras, mas com ações responsáveis e intransferíveis. Porém, pela própria noção de autotranscendência, responder a tais apelos significa responsabilizar-se pelo outro e pelo mundo, assumindo as exigências que a partir dele se introduzem em nossa vida (Frankl,1994, p. 110).

Para Frankl, o homem é essencialmente um ser responsável – capaz de responder pessoal e criativamente aos apelos que a vida lhe faz. A “ética de convicção” (expressão weberiana) poderia ser entendida na concepção frankliana, como horizonte pessoal de valores de referência, o que é imprescindível para a configuração do sentido da vida pessoal; porém não há contradição com o que Weber denomina “ética de responsabilidade”, no sentido de que a responsabilidade pelos próprios atos é sempre intransferível, em qualquer âmbito que se dê, privado ou público.  Além do que, na ética frankliana jamais os fins justificam os meios, pois há meios que podem chegar a prostituir o fim mais justificado, e isso ele afirma nas poucas referências que faz à política, quando fala de suas experiências e decepções com o marxismo. E também nestes casos, apela à consciência: “finalmente, a consciência é a que me dirá em última instância se na luta política se podem aplicar ou não determinados meios, inclusive em vista dos fins mais justificados” (Id., 2005, p. 71). 

Em que cenário pode-se dizer que Frankl desenvolve a fecunda temática da responsabilidade? No mundo em que se alastra o que denomina o vazio existencial, provocado especialmente pela perda radical de referências, o que pode colocar o homem diante de duas grandes ameaças, o conformismo e o totalitarismo. Como homem de seu tempo, que viveu a guerra e o cativeiro como frutos do regime totalitarista do nacional socialismo, Frankl aponta quatro sintomas (atitudes) que denotam o que denominou “a patologia do espírito de nosso tempo”: atitude provisional, o fatalismo, a idéia coletivista e o fanatismo. Tais posicionamentos se contrapõem à responsabilidade perante a existência: incapacidade de confrontar o destino, culpar a situação ou qualquer outra instância (o inconsciente, por exemplo), transferir ou escamotear a própria responsabilidade, valorizar os meios em detrimento dos fins. É nesse cenário que a educação deve “favorecer a depuração da consciência moral, de sorte que o homem se sensibilize o suficiente para captar o postulado inerente em cada situação. [...] com efeito, só uma consciência lúcida o capacitará para a ‘resistência’, para não amoldar-se ao conformismo nem dobrar-se ao totalitarismo” (FRANKL, 1994, p. 20).  

A superação do fatalismo pressupõe a convicção de que nenhuma pessoa é anônima, todas são responsáveis por viver em sentido autêntico. E também a convicção de que toda situação é histórica – a transitoriedade da existência coloca o homem diante da responsabilidade por essa mesma existência. Frankl (Ibid., p. 242), parodiando o imperativo categórico kantiano, recomenda que vivamos a máxima expressa no seguinte imperativo: “Vive como se vivesses por uma segunda vez e como se a primeira vez o tivesses feito tão mal como estás a ponto de fazê-lo agora”. Ou seja, a historicidade da vida, mesmo a história vital não escrita, deve impelir-nos a decidir responsavelmente pelo momento seguinte.

O filósofo alemão Hans Jonas, em sua obra O princípio responsabilidade – ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, faz o resgate da ética da responsabilidade sugerida por Max Weber no início do século, colocando em foco o tema da sobrevivência, em sentido físico e espiritual, da humanidade. Trata-se de uma avaliação extremamente crítica da ciência moderna e da tecnologia, que alcançaram tamanho poder em mãos humanas que se faz urgente pensar uma nova ética, capaz de dar conta desse novo momento da contemporaneidade, a saber, uma reconfiguração da ética da responsabilidade. 

 Para o autor, a “técnica moderna introduziu ações de tal ordem inédita de grandeza, com tais objetos e conseqüências, que a moldura da ética antiga não consegue mais enquadrá-las” (JONAS, 2006, p. 39). O alcance e a imprevisibilidade de suas conseqüências futuras para a humanidade levam a repensar a ética, até então restrita aos limites do ser humano e ao compromisso com o momento presente. A nova exigência de responsabilidade relaciona-se, agora, à ação que afeta também a natureza das coisas extra-humanas e que pode comprometer o futuro.

Em substituição aos antigos imperativos éticos, entre os quais o imperativo kantiano, Jonas também propõe um novo imperativo categórico, mais adequado à nova maneira de agir e a um novo sujeito: "Aja de tal modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra”; ou, expresso negativamente: "Aja de modo a que os efeitos da tua ação não sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vida" (Ibid., pp. 47-48). 

O elemento especificador da moral é agir em função da continuidade da vida na terra, ou seja, a integridade humana está totalmente implicada na preservação do planeta. E mais: ao discutir uma série de questões éticas, entre as quais a manipulação do patrimônio genético, tal integridade está relacionada ao modo de ser natural, cujas alterações podem ter conseqüências imprevisíveis. Ao formular o seu imperativo de responsabilidade, não está pensando apenas na pura destruição física dos seres humanos, mas sim na sua morte essencial, a perda de sua própria humanidade (o homem deixa de ser o homo humanus, na linguagem de Frankl), uma vez que a vida passa a ser compreendida a partir do advento da técnica separada de qualquer ética. 

Assim, Jonas não se restringe a uma ética de sobrevivência apenas, pois “se trata não apenas do destino do homem, mas também da imagem do homem, não apenas de sobrevivência física, mas também da integridade de sua essência” (Ibid., p. 21). Trata-se de perguntar sobre a razão de os homens estarem no mundo, o valor do Ser em vista do não-Ser, e daí advém a necessidade de se pensar uma ética que reconheça a metafísica, que exija a reflexão filosófica sobre o sentido da existência humana, para além de uma ética subjetivista que prescinda de valores. Se a fé, que pode fornecer fundamentos à ética, não está disponível para o homem contemporâneo, a metafísica sempre foi uma questão da razão. 

O autor também discute como fundamento necessário para a nova ética a “validade objetiva do valor”, que permite ultrapassar a suspeita (e aqui coincide com o que Frankl chama de niilismo moderno) de que qualquer agir ético esteja no fundo mascarando a realidade: “por trás desse passo [do reconhecimento do valor ao agir] espreita a suspeita de que até a mais extraordinária automistificação da moral, [...] seja simplesmente uma forma encoberta de autossatisfação da pulsão (por exemplo, da “vontade de poder”), ou seja, de que todo dever aparentemente auto-imposto não passe de um disfarce da vontade (Ibid., p. 154). 

Na introdução do livro de Hans Jonas (Ibid., p 19), Maria Clara Lucchetti Bingemer afirma a pertinência de sua reflexão para o mundo contemporâneo: “Só uma ética que nos responsabilize a todos pode cumprir o papel de apontar os valores e os fins a serem perseguidos e utilizar os meios como aquilo que realmente são, sem transformá-los em fim em si mesmos”. De fato, nessa época em que se presencia o fim das utopias, o fim das referências objetivas de valores e, ao mesmo tempo, novos paradigmas começam a surgir, somente uma ética da responsabilidade pode ser a bússola norteadora para a continuidade da vida digna de ser chamada de humana.  

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANKL, Viktor E. El hombre doliente – fundamentos antropológicos de la psicoterapia. Barcelona: Editorial Herder, 1994. ________, Viktor E. En el principio era el sentido – reflexiones en torno al ser humano. Barcelona: Paidós, 2005. JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006. WEBER, Max. Ciência e Política – duas vocações. São Paulo: Cultrix, s/ data.  

Eloísa Marques Miguez
Doutora em Educação pela USP
Especialista em Análise Existencial aplicada à Educação.
Diretora do Centro de Educação Nossa Senhora das Graças – Jacareí
Membro da Comunidade “Senhor da Vida”

Contato: elomiguez@gmail.com

 

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